O silêncio da representação: a imagem das vítimas no cinema afegão pós-talibã

Resumo

O cinema em Afeganistão tem estado inevitavelmente ligado aos diferentes conflitos que marcaram o contexto social do país e da região. A queda do regime talibã em 2001 permitiu o ressurgimento do cinema no país e, por tanto, a oportunidade de narrar o que a sociedade afegã havia experimentado durante os anos de mais radical repressão. Algumas obras do cinema afegão tem explorado modos de compreender a voz e o testemunho que se distanciam das fórmulas tradicionais repetidas pelas mídias em massa e pelo cinema mais comercial, e introduzem uma re exão sobre as possibilidades expressivas do silêncio e a paralisia que muitas vezes passamos por alto devido à nossa pressa em privilegiar a palavra e a ação. Este artigo propõe uma análise de algumas obras do cinema afegão como um modo de conhecer e analisar o modo como outros enfrentaram o problema sempre aberto da reconstrução da memória por meio da voz daqueles que sofreram as consequências diretas de um conflito armado de várias décadas. Não se trata de sugerir que o contexto de Afeganistão deve usar-se como modelo na Colômbia na hora de pensar sobre o papel do cinema no chamado “pósconflito”, mas sim de abrir a possibilidade de pensar no problema de “dar voz” através da análise do que tem ocorrido em outros contextos, e do papel que foi atribuído à imagem nesses contextos.